Daciano Costa (1930-2005) foi um dos mais destacados designers portugueses, responsável por obras obras tão marcantes como os interiores da Biblioteca Nacional, do Centro Cultural de Belém e da Casa da Música. O seu espólio de arquitecto e designer vai ficar em depósito no MUDE, em Lisboa, na sequência de um protocolo assinado em Julho de 2010 entre a família e a Câmara de Lisboa, que tutela o museu.
Em 1952 visitou Roma e ficou encantado com o design das Vespas que via passar na rua, quem sabe se também influenciado pelo filme Roman Holiday, estreado nesse ano de 1952, com Gregory Peck e Audrey Hepburn
Em 1995 escreve para a Revista Expresso:
..." Primo la Musica" Para quem pela 1ª vez em Roma, naquele 1952, tudo era "diferente" e "mais". Mas uma coisa era mais e diferente: a "Vespa". Pares enlaçados em vertiginosas valsas com lindíssimas coreografias, nos entardeceres da Cidade Eterna, deixavam os campónios espetados na calçada!
O que se descobriu em primeiro lugar foi um novo modo de conviver em andamento, uma dança, um acasalamento feliz. Depois, prosaicamente, racionalizou-se que ali estava um novo meio de transporte unissexo e ladino que naquele pós-guerra vinha democratizar o modo de viajar...
..."Doppo la Parola" Muitos anos depois, frente ao agressivo "peidociclo" urbano (agora nipónico) e à expansão do rural "cavalo de arame", posso referir a "Vespa" como o meu objecto de "design" do século e também um pouco a "Lambretta", sua irmã colaça. Ambas propõem uma posição sentada pacífica e unissexo, mas só a "Vespa" nos dá um "habitáculo" definido claramente pelo seu subido avental, criando um espaço vivencial. Também ela, com uma imagem global unitária (zumbido, forma de insecto e denominação), é que melhor se afirma...
A "Vespa" é uma verdade estrutural porque adopta inesperadamente uma "estrutura laminar" de elementos em chapa estampada, tornados solidários por soldaduras num só conjunto rígido: estrutura/carrosseria resultante da experiência industrial da Piaggio no campo da aeronáutica. O modelo 98, de 1945, desenhado por Corradino d´Ascanio, fixa definitivamente uma imagem de produto com uma lógica formal que, como ideia em movimento, vem até ao modelo mais recente, acentuando-se agora linguisticamente pelas "antenas" dos retrovisores.
A "Vespa" não é a botifarra da afirmação de personalidades agressivas. Só o tremendo aumento de tráfego exige o capacete lunar, perdendo-se os cabelos ao vento, as pernas cruzadas à amazona das "penduras" e aquele pestanejar cintilante das minhas encantadas memórias romanas! Não é para cavalgadas apocalípticas e, como "indumentária", uma cordial pantufa!"
Revista nº 1173 do jornal "Expresso"
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