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Outono e Inverno
Na Praça da Figueira,
ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono,à esquina do Inverno,
o homem das castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.
ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono,à esquina do Inverno,
o homem das castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.
É um cartucho pardo a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio.
e, se não mata a fome, mata o frio.
Lisboa 1966 |
Já não embrulham as castanhas assadas em cartucho pardo nem em listas telefónicas, mas os fogareiros continuam acesos. Andam também pelo Areeiro, Praça de Londres e Saldanha. A vida talvez já não seja de fome, mas o frio continua a pedir guarida e protecção.
Lisboa, Praça do Areeiro |
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.
Lisboa, Praça D. Pedro V, 1907 |
Um carro que se empurra,
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.
Lisboa, Praça de Roma |
O sr. Eduardo Pinto é alegre e falador, gosta de recordar o ano de 1954 em que os outros vendedores da Morais Soares tentaram correr com o seu triciclo a pedais.
Depois trabalhou numa livraria e partiu para África, de onde voltou para comprar a sua Zundapp de 4 velocidades que mais tarde maravilhou o técnico alemão pela sintonia em que mantinha o motor. Continua a apregoar pedaços de alegria enquanto espera ansioso pelo momento em que encontra a sua companheira Lurdes, que conduz o célebre triciclo azul desde o St. António. Ao passar pelo Areeiro, a caminho de Chelas, recebem a companhia da sobrinha Maria Silvina.
Lisboa, Av. da Igreja |
O sr. Afonso, Sereno de nome e feitio, comanda a frota de 5 triciclos que ocupa outras zonas de Lisboa, não hesitando ao negar a sua venda para um hotel em Angola, mas permitindo, orgulhoso, fotos de artista que irão decorar uma qualquer Recepção nesses lugares quentes e bons.
Lisboa, Praça do Areeiro |
Primavera e Verão
Lisboa, Algures (obrigado Rodas de Viriato) |
Lisboa, Praça do Saldanha |
Duas famílias que perpetuam, conscientes da sua missão, uma tradição portuguesa de décadas que não querem deixar morrer.
Resido num país de colonização essencialmente portuguesa (Brasil), mas por aqui a cultura não é tão favorável aos triciclos. O que se vê aos montes são aquelas Kia Towner vendendo o americanizado "hot dog"...
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